– Carla, venha aqui agora!
Bufando, Carla sai do banheiro, com a toalha na cabeça e desce os degraus da grande escada localizada no meio da enorme sala da casa de seus pais. Ela já sabe de tudo que vai acontecer, não adianta que sempre alguém descobre, ela havia dito horas antes para Beatriz, sua amiga de infância. Mas nem o mau humor a impediu de fazer. Ela sabe, foi horrível mas, não poderia se impedir. Já foi pega tantas vezes que para ela mais um castigo de dois anos não mudaria sua vida em nada. Contando com a “passagem secreta” que teria construído em seu quarto a três anos atrás, depois de sua última trama, presa por cinco meses dentro daquele quarto, uma diversão. Porem aqueles degraus a deixavam loucas. Rangiam como ursos mortos de fome, querendo a devorar. Como se ela fosse o prato mais gostoso da noite. Sempre era, não queria se gabar, mas era sempre assim. Notou uma carta jogada no degrau, e aguardando a fúria dos gritos de sua mãe, abre aquilo que mais parece papel amaçado. “Triste, mas bom enquanto durou. Foi loucura total, me apaixonei mas agora, só quero vê-la morta, em baixo da terra, depois de cinco anos”. Susto foi pouco, tropeçando no degrau seguinte, fazendo os ursos rangerem mais fortes e mais bravios. A assinatura estava BKW. Não sabia o que significava mas colocou no bolso de seu jeans desbotado e desceu correndo, mais assustada do que já estava seria impossível. Vamos lá, está na hora de encarar a fera, só mais alguns passos e…
– Filha, estou chamando a uma hora por seu nome, o jantar está na mesa e já deve estar frio.
(bkw, tati muniz)